Introdução
A doutrina espírita, fundamentada nos ensinamentos de Allan Kardec, oferece uma visão profunda e abrangente sobre o amor e a indulgência, não apenas entre os vivos, mas também em relação aos desencarnados. O capítulo XII de “O Evangelho segundo o Espiritismo”, intitulado “Amai os vossos inimigos”, explora esta temática de maneira iluminadora, especialmente na seção sobre “Os inimigos desencarnados”.
A Impermanência da Maldade
Um dos pilares do espiritismo é a compreensão de que a maldade não é um estado eterno nos seres humanos. Assim como uma criança corrige seus defeitos ao longo do tempo, um indivíduo considerado mau também reconhecerá seus erros e se tornará bom. Esta perspectiva nos convida a ver a maldade como uma imperfeição temporária, uma etapa no caminho evolutivo do espírito.
O Ódio Além da Morte
A morte física não interrompe a influência dos inimigos, pois eles podem continuar a nutrir ódio mesmo após deixarem a Terra. A vingança, longe de resolver os conflitos, apenas intensifica a animosidade, perpetuando um ciclo de ódio que pode atravessar diversas existências. O espiritismo demonstra, através de experiências e das leis que regem as relações entre o mundo visível e o invisível, que “extinguir o ódio com o sangue” é uma ideia falsa. Na verdade, o ódio alimenta-se de sangue, mesmo além do túmulo.
A Utilidade Prática do Perdão
O espiritismo atribui uma razão prática ao perdão e ao preceito cristão de amar os inimigos. Não há coração tão perverso que não seja tocado pelo bom proceder. Através do comportamento virtuoso, eliminamos qualquer justificativa para represálias e podemos até transformar um inimigo em amigo, seja antes ou depois de sua morte. Um mau comportamento, por outro lado, pode exacerbar a inimizade, tornando-se um instrumento de punição pela justiça divina.
Inimigos Encarnados e Desencarnados
Os inimigos podem ser encontrados tanto entre os vivos quanto entre os desencarnados. Os inimigos do mundo invisível manifestam sua malevolência através de obsessões e subjugações, que são formas de provação contribuindo para o avanço espiritual do indivíduo. Receber estas provas com resignação é essencial, reconhecendo-as como consequências da natureza inferior do globo terrestre. Se não houvesse maldade na Terra, não haveria espíritos maus ao nosso redor. Portanto, a benevolência deve ser aplicada tanto aos inimigos encarnados quanto aos desencarnados.
A Transformação pela Caridade
Historicamente, sacrifícios sangrentos eram realizados para aplacar os deuses infernais, que na realidade eram apenas espíritos maus. O espiritismo esclarece que esses demônios são simplesmente as almas de homens perversos que ainda não se livraram dos instintos materiais. A caridade é o único meio eficaz de aplacar esses espíritos, impedindo-os de fazer o mal e ajudando-os a encontrar o caminho do bem. Este mandamento de amar os inimigos transcende a vida terrena, sendo parte integrante da grande lei da solidariedade e fraternidade universais.
Conclusão
A doutrina espírita nos ensina que a indulgência e o amor pelos inimigos têm um impacto profundo, não apenas em nossa vida atual, mas também no além. Ao praticar o perdão e a caridade, contribuímos para a nossa evolução espiritual e ajudamos na transformação daqueles que ainda estão presos na maldade. Assim, cumprimos a grande lei da fraternidade universal, promovendo um mundo melhor para todos, encarnados e desencarnados.
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